LE HAVRE
Quando recebi o convite para assistir a inauguraçāo de uma biblioteca no espaço Petit Volcan (Pequeno Vulcāo), construido por Oscar Niemeyer na cidade do Havre, nāo hesitei nenhum minuto em aceitar. Visitar uma obra do nosso arquiteto brasileiro em terras francesas já me deixava orgulhosa. Também pensei que seria a oportunidade para conhecer uma cidade onde nunca tinha estado. Estava longe de imaginar, naquele momento, que iria me apaixonar pelo Havre !
Le Havre é uma cidade portuária da Normandia, localizada no estuário do Sena. A cidade foi fundada em 1517 mas a sua arquitetura é moderna. Em grande parte destruída pelos bombardeios que sofreu em 1944, a cidade do Havre foi reconstruída, após a guerra, segundo os planos do arquiteto Augusto Perret. Plano retilíneo com amplos espaços abertos, edificios construídos em concreto armado, largas avenidas que se abrem para o mar. O campanário da igreja St Joseph domina a cidade que respira entre céu e água. Em 2005 o centro da cidade do Havre foi inscrito no Patrimonio Mundial da Humanidade pela Unesco levando em conta dois critérios : « o remarcável exemplo de arquitetura e planejamento urbano da pós-guerra » e a « inovadora exploração do potencial do concreto armado ».
Eu convido vocês a passear por essas amplas avenidas, sentir a brisa marinha e admirar a luz particular da cidade que inspirou tantas pintores famosos como Claude Monet, Eugène Boudin, Pissaro, William Turner, Corot, Maurice de Vlaminck …
A caminhada no centro da cidade nos leva ao Espaço Oscar Niemeyer : o Grand Volcan e o Petit Volcan, construídos em 1982. O Grand Volcan é a principal sala de espetáculos da cidade. O Petit Volcan, inicialmente concebido como uma sala polivalente, foi transformado em biblioteca pública com a autorização de Niemeyer. A equipe de arquitetos responsavel pelo projeto se defrontou com uma construção em concreto armado, de forma arrendondada e sem luz natural. Eles organizaram o espaço em função das necessidades documentais e das características proprias do edifício, buscando fontes de luz natural (vidraças no teto, vigias, fachada envidraçada) e valorizando as paredes que queriam conservar. Cada elemento da biblioteca foi pensado e o resultado é espetacular. O objetivo do projeto é que esse espaço dedicado à leitura e ao conhecimento se torne um espaço da vida coletiva. E acho que tem tudo para ser um imenso sucesso !

Uma das últimas obras de Auguste Perret e tendo como co-autor Raymond Audigier, a igreja Saint Joseph domina o centro reconstruído do Havre. Com sua torre lanterna de 107m de altura, a igreja é o primeiro monumento que se percebe ao se chegar pelo mar. E’ uma construção complexa e o que impressiona é a ausência de pilares em sua parte central. A torre lanterna permite que a luz penetre na igreja graças aos vitrais coloridos e geométricos. Vista do exterior, com sua fachada em concreto armado, é dificil imaginar o interior da igreja repleto de luz.
Do alto do edificio da prefeitura, no terraço do 17° andar, a vista em 360° da cidade é um espetáculo. O mar, o Sena, o porto. Uma visão fantástica que oferece a dimensão real da cidade.

Uma outra forma de se visitar o Havre é seguir o caminho da « Promenade Littéraire » (Passeio Literário), uma instalação urbana inédita. Você descobre a cidade através de trechos selecionados de grandes escritores, do começo do século XIX até os dias de hoje, que colocaram o Havre nas páginas de seus livros. São vinte bancos « literários » (pontos de vista) que balizam o caminho e a sua orientação permite que a pessoa que aí se senta vislumbre a paisagem, o edifício, a praça, a rua descritos no texto literário que se encontra in situ. Uma idéia fantástica que já está sendo copiada em outras cidades !

Outra maneira de se conhecer a cidade é aborda-la pelo seu lado marítimo com um passeio de barco no porto. O porto do Havre é o primeiro porto da França para os contêineres e o segundo pelo tráfego total. Ladeando o Port 2000 avistamos os imensos pórticos de contêineres em ação e os porta-contêineres. São milhões de toneladas de mercadorias que passam pelo porto do Havre e vários terminais destinados a escoa-las.
Lamento somente nāo ter tido tempo suficiente para visitar o Museu de Arte Moderna André Malraux . Ele é o segundo museu frances em número de telas impressionistas ! Acho que o que seduziu tantos artistas, que imortalizaram o Havre em suas obras, continua vigorando no presente. A cidade continua a fascinar todos os que a visitam. Até a próxima !